3 de abr. de 2016

Alta dos medicamentos impacta ainda mais orçamento das famílias debaixa renda

Um levantamento feito pelo Dieese a pedido da CBN aponta que o só o reajuste de 12,5% autorizado pelo governo federal representa para esta categoria aproximadamente 80% da inflação média mensal.

Por Débora Freitas

 Para as famílias mais ricas, o impacto será de 0,23 ponto percentual. Os preços dos medicamentos no Brasil já estão entre os mais altos do mundo, seja pela alta carga tributária ou pela falta de investimento em inovação. 

As famílias brasileiras que ganham até R$ 1,3 mil  gastam, em média, R$ 52 com medicamentos todos os meses, ou seja, 4% do orçamento. Com o reajuste de 12,5% autorizado pelo Ministério da Saúde, que é o primeiro em 10 anos acima da inflação, esse gasto pode chegar a até R$ 58,50 em abril, considerando que não houve aumento na renda. Parece pouco, mas não é. 

A pedido da CBN o DIEESE calculou o impacto aproximado na inflação mensal, que segundo a supervisora na área de preços, Patrícia Lino Costa, vai atingir em cheio o custo de vida das famílias de baixa renda. 

Considerando que nada mais aumente em abril, se todos os preços ficarem estáveis, só o aumento do medicamento eleva o custo de vida em 0,4%. Se você tem uma inflação de 0,5%, um impacto de 0,4 pontos percentuais é alto. 

Para as famílias mais ricas, o impacto será de 0,23 ponto percentual, quase metade do índice médio mensal de inflação. Já quem tem mais de 60 anos desembolsa 6% da renda para comprar remédios. O gasto pode passar dos R$ 87 por mês depois do aumento. Mas o cenário fica ainda pior para os doentes crônicos. É o caso da professora aposentada Terezinha Pacheco. Ela toma cinco comprimidos por dia e o marido, 13. Eles chegam a deixar quase metade da renda na farmácia todos os meses. 

Quando tem remédio na rede nós gastamos cerca de R$ 350. Quanto não tem isso aí explode pra quase R$ 500. O Vastarel eu paguei R$ 98 essa semana, uma caixa, dá pra um mês certinho. 

Vastarel é um medicamento usado para doenças cardíacas e não está disponível na rede pública de saúde.

Uma coisa é certa, os remédios no Brasil estão entre os mais caros do mundo. O setor tem preço controlado pelo governo federal. A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos determina um valor máximo de venda para cada uma das seis categorias: duas de produtos novos, os de referência, que levam em conta os preços internacionais; e quatro de medicamentos similares ou genéricos, que custam até 35% menos. 

De acordo com o médico e professor especialista em gestão de saúde Rubens Baptista Júnior, na maioria dos casos a lei da oferta e da procura é que determina o valor na prateleira. O preço do Tamiflu, por exemplo, utilizado para tratar gripe H1N1 e em falta no mercado varia entre R$ 173 e R$ 231 na rede privada. Para ele, falta uma cultura de inovação no Brasil para baratear os remédios. 

Sai mais caro no Brasil porque não criamos nosso próprio medicamento, dependemos da ciência dos países mais avançados. Nos países que desenvolvem o próprio medicamento sai muito mais barato, pois são donos da patente. Nenhum medicamento importante é desenvolvido aqui. A melhor solução seria desenvolver a economia para que viesse mais concorrência pra vender remédio aqui, aí o preço cai. Também desenvolver a economia para que o brasileiro ganhe um pouco melhor pra que o remédio não pese tanto no bolso dele. E a longuíssimo prazo as  universidades adquirirem uma mentalidade de trabalhar junto  com as empresas, trabalhar pra criar inovação. 

O tempo máximo de vigor de uma  patente de medicamento é de 20 anos, que começa a valer a partir do desenvolvimento da molécula. Todas as etapas que antecedem o lançamento comercial podem levar até quatro anos. Com o fim da patente, o remédio fica sujeito a concorrência de produtos similares e genéricos. 

O diretor da Associação da Indústria  Farmacêutica de Pesquisa, Pedro Bernardo, não acredita que só as patentes sejam responsáveis pelos altos custos de remédios no Brasil. Para ele, o maior vilão é a alta carga tributária, de 34%. A média mundial é de 6,3%. 

 A carga no Brasil é a maior do mundo. Por que o estado brasileiro precisa ficar com um terço do preço do medicamento? Fica-se colocando culpa na patente ou qualquer outra coisa quando na verdade o estado tem uma carga muito pesada. É muito bom de apontar o dedo e colocar a culpa no outro, mas ninguém quer olhar a sua parcela de culpa nessa história.

A lista de preços de medicamentos comercializados no Brasil tem cerca de 25 mil itens. Para conseguir o melhor preço é preciso pesquisar. Com a ajuda da internet é possível acessar sites que comparam valores. Já o programa do governo federal Farmácia Popular oferece 112 itens com preços até 90% mais baratos. Pelo Sistema Único de Saúde remédios de uso contínuo ou de alto custo são oferecidos gratuitamente para quem tem receita. A lista está disponível no site do Ministério da Saúde.

Fonte:  http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/economia/2016/04/02/ALTA-DOS-MEDICAMENTOS-IMPACTA-AINDA-MAIS-ORCAMENTO-DAS-FAMILIAS-DE-BAIXA-RENDA.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário