15 de jun. de 2016

À espera de transplante, americano vive 555 dias sem coração

Nos últimos 18 meses, o americano Stan Larkin, de 25 anos, levou uma rotina semelhante a de outros jovens da mesma idade, com momentos de lazer ao lado a família, passeios de carro com os amigos e eventuais jogos de basquete. A diferença é que Larkin não tinha um coração.
Diagnosticado com cardiomiopatia, condição genética que afeta o músculo do coração, o morador de Ypsilanti, no Estado de Michigan, foi submetido a uma cirurgia para a retirada do órgão em 7 de novembro de 2014.
Durante os 555 dias seguintes, enquanto aguardava um doador compatível para que pudesse ser submetido a um transplante, Larkin foi mantido vivo graças a um coração artificial temporário.
  O dispositivo, denominado "Coração Artificial Total" e fabricado pela empresa SynCardia, é conectado por dois tubos que saem do corpo do paciente a uma máquina chamada Freedom Driver, que garante a energia para o funcionamento do coração artificial e permite que o sangue seja bombeado para o corpo.
Pesando pouco mais de 6 kg, o Freedom Driver é carregado em uma mochila, o que permitiu que Larkin, em vez de esperar pelo transplante em uma cama de hospital, como a maioria dos pacientes nessa situação, pudesse ir para casa e levar uma vida praticamente normal durante o período.
No mês passado, os médicos finalmente encontraram um doador e Larkin recebeu um transplante. Ele passa bem e já teve alta.
"É impressionante como ele levou uma vida ativa com o dispositivo, até jogando basquete", disse à BBC Brasil o médico Jonathan Haft, que realizou ambas as cirurgias no Centro Cardiovascular Frankel da Universidade de Michigan.
"Ele obviamente queria o transplante, queria se livrar da mochila e de todo o trabalho envolvido, mas em termos de independência e qualidade de vida foi realmente extraordinário ver como ele se saiu bem", avalia o cirurgião.

Grupo seleto

Apesar de não ser inédito, o caso de Larkin é pouco comum. "Ele foi o primeiro paciente no Estado de Michigan a ser liberado do hospital usando essa tecnologia, esse componente externo que permite ao paciente esperar pelo transplante em casa", salienta Haft.
Segundo a Universidade de Michigan, antes dessa tecnologia portátil ser aprovada nos Estados Unidos (em junho de 2014), o coração artificial total temporário era ligado a uma máquina chamada "Big Blue", que pesava cerca de 190 kg e tinha o tamanho de uma lavadora de roupas, obrigando os pacientes a permanecer no hospital por meses ou até anos até encontrarem um doador.
De acordo com Haft, o coração artificial total do tipo usado por Larkin é implantado cerca de 200 vezes por ano ao redor do mundo, um número bastante baixo em um universo de milhões de pessoas com doenças cardíacas graves.
O médico observa que, em caso de pacientes à espera de transplante, costuma ser mais frequente o uso de dispositivos de assistência ventricular, que auxiliam apenas um ou outro lado do coração.
Ao contrário desses dispositivos, o coração artificial total é equipado para auxiliar quando ambos os lados do coração falham e precisam de assistência, como no caso de Larkin.
Conforme a Universidade de Michigan, Larkin faz parte de um grupo seleto de pacientes nos Estados Unidos a se beneficiar da independência proporcionada por essa tecnologia portátil.

Irmão

Larkin foi diagnosticado em 2007, após desmaiar jogando basquete.
Seu caso é ainda mais incomum porque seu irmão mais novo, Dominique, de 24 anos, descobriu ter a mesma doença e teve o coração removido menos de um mês depois de Larkin.
Dominique teve seu coração substituído pelo órgão artificial em dezembro de 2014. Seis semanas depois, ainda no hospital, recebeu um transplante.
"É raro o fato de dois irmãos, que sofriam da mesma doença havia anos, terem vindo parar no hospital na mesma época. Ambos chegaram a um estágio avançado da doença ao mesmo tempo, então tínhamos os dois na nossa Unidade de Tratamento Intensivo, e ambos receberam um coração artificial na mesma época, com poucas semanas de diferença", observa Haft.

Limitações

Em entrevista coletiva após o transplante, Larkin descreveu os últimos 18 meses como uma "montanha-russa de emoções".
Apesar da independência proporcionada pelo dispositivo portátil, Larkin teve de conviver com algumas limitações.
"Esse dispositivo obviamente precisa de energia para funcionar. Há baterias que dão ao paciente liberdade por um curto período de tempo, mas é preciso sempre levar baterias extras e poder carregar o dispositivo quando a carga estiver chegando ao fim", ressalta Haft.
"Nós também recomendamos aos pacientes levar um Driver extra para que, caso falhe, possam trocar onde estiverem. Larkin precisava estar sempre acompanhado de alguém que levasse o Driver extra", diz o médico.
Além disso, Haft ressalta que os tubos que saem da pele do paciente são grandes e suscetíveis a infecções.
O cirurgião prevê que avanços tecnológicos irão produzir dispositivos menores, mais leves e com baterias mais duradouras.
Haft afirma que, à medida que essa tecnologia se tornar mais frequente, vai permitir aos pacientes atividades como trabalhar e viajar.
"É gratificante ver o resultado fantástico no caso de Larkin", comemora.
Fonte :http://www.bbc.com/portuguese/geral-36536368

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